(extraido de AFP*)

COPENHAGUE — Países industrializados e emergentes demonstraram sérias divergências nesta sexta-feira, em torno do primeiro rascunho de acordo da conferência sobre o clima, em Copenhague. Os Estados Unidos pediram mais esforços às economias emergentes; a China exigiu soluções de financiamento a longo prazo.


Os países em desenvolvimento, reunidos no G77, taxaram de "insignificante" a proposta da União Europeia (UE) de conceder ajuda de 10 bilhões de dólares, nos próximos três anos, às nações mais pobres, para que enfrentem a mudança climática.


Na verdade, os ricos estão oferecendo menos, queixam-se os representantes das nações em desenvolvimento. Tempos atrás, os europeus haviam anunciado que concederiam uma ajuda de 100 bilhões de dólares, para os países mais pobres e vulneráveis, a título de "adaptação" aos efeitos do aumento da temperatura no planeta.

O texto obtido pela AFP do rascunho oficial de um acordo mundial sobre o clima, nesta sexta-feira, também prevê limitar o aumento da temperatura do planeta em 1,5º C ou 2,0º C.

Mas é vago no que diz respeito ao financiamento, e tampouco cita uma data limite para a conclusão de um tratado legalmente vinculante (acordado por todos os país e com valor legal).

Este documento será apresentado aos ministros do Meio Ambiente de todo o mundo, para que seja ratificado no dia 18 de dezembro durante a reunião da qual participarão 110 líderes mundiais.

Os Estados Unidos questionam o projeto, considerando que não exige esforços suficientes aos grandes países em desenvolvimento, segundo Todd Stern, enviado especial de Washington.

"As grandes economias não são pressionadas o suficiente para que reduzam suas emissões de carbono, e isto faz que este texto seja desequilibrado neste ponto específico", destacou o chefe dos negociadores americanos em uma entrevista à imprensa.

Um financiamento em curto prazo para ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar os efeitos do aquecimento climático não é a resposta, afirmou nesta sexta-feira, em Copenhague, o vice-ministro chinês das Relações Exteriores, He Yafei, depois de um anúncio da UE a respeito, em Bruxelas.

"Falo de curto prazo e digo que isto não basta. Não é a chave" (para o problema), declarou, durante entrevista à imprensa.

"É relativamente fácil para as nações industrializadas apresentar cifras para o curto prazo. Mas que faremos em três anos ?", indagou.

"Se precisamos nos comprometer até 2050, duvido da sinceridade dos países ricos: por que não falam de um compromisso financeiro até 2050 ?", acrescentou.

Já os países em desenvolvimento, reunidos no G77, consideraram "os recursos concedidos pela União Europeia não apenas insignificantes, mas que alimentam ainda mais a desconfiança sobre as intenções dos dirigentes europeus em relação à luta contra a mudança climática".

Lumumba Stanislas Dia Ping, chefe da delegação do Sudão, país que preside atualmente o G77 disse que a decisão de hoje da UE não cumpria o compromisso de tratar o problema a longo prazo.

"Nosso ponto de vista é que os dirigentes europeus estão agindo como se fossem céticos" em relação à mudança climática, declarou o líder do G77.

"Estão dizendo basicamente que o problema não existe e que, portanto, não concederão financiamento", concluiu.

Se tudo sair bem, um acordo político em Copenhague seria seguido por reuniões, em 2010, sob a Convenção Marco da ONU sobre Mudança Climática, integrada por 194 países, para decidir detalhes importantes.

O pacto global entraria em vigor a partir de 2013, depois de expirados s compromissos do Protocolo de Kioto.

O rascunho divulgado hoje foi apresentado pelo Grupo de Trabajo ad hoc sobre Ação de Cooperação a Longo Prazo.

O texto inclui vários parênteses, que põem em evidência os desacordos.

"As partes vão cooperar para evitar mudanças perigosas do clima, em manter os objetivos últimos da Convenção, reconhecendo (a opinião científica geral) de que o aumento da temperatura média mundial sobre os níveis pré-industriais no deva ser superior a (2ºC) (1,5ºC)", afirma o documento, de sete páginas, , e que será utilizado a partir de agora como base das negociações.

A limitação a 1,5 grau é proposta pelos pequenos Estados insulares e por vários países africanos gravemente ameaçados pelo aquecimento global.

A outra proposta, de uma limitação do aumento da temperatura a dois graus, é defendida tanto pelos países ricos como pelos grandes emergentes, incluindo Brasil, China e Índia.


O rascunho deixa abertas três metas possíveis para uma redução geral das emissões globais de carbono até 2020, em comparação com os níveis de 1990: 50%, 80% e 95%.

Os países industrializados são favoráveis ao objetivo de 50%, enquanto que as grandes economias emergentes, dirigidas pela China, resistem, a menos que os países ricos assumam a quase totalidade do peso financeiro.

*A AFP é uma agência de imprensa mundial.

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