Segundo o estudo da história da Antiguidade, o termo “Mesopotâmia” (do grego, meso= no meio; potamos= rio) significa “entre rios”. O termo passou a se referir a região dos rios Tigre e Eufrates, hoje atual Iraque e também parte do território do Kwait. Na verdade, a região da Mesopotâmia abrangia uma vasta planície na bacia dos rios Tigre e Eufrates onde se desenvolveram várias civilizações, como a dos Sumérios, babilônios, hititas, assírios e caldeus.
O que Tobias Barreto tem haver com esse termo? O sítio urbano onde se encontra a cidade de T. Barreto está localizado numa “planície”, na verdade em Geomorfologia, se diz Pediplano Sertanejo, por se tratar de uma área localizada em pleno semi-árido; mas também está localizado ás margens de dois rios: o Real, em sua margem esquerda, e o rio Jabeberi, na margem direita deste. Portanto, fazendo uma analogia com o termo “Mesopotâmia”, a nossa cidade e, consequentemente, o nosso município, poderia ter essa denominação, já que no Brasil, o mesmo termo empregado para designar a sede municipal, também se estende ao município.
Porém, a analise que faço atualmente neste artigo, é de como está a situação desses dois rios que banham a nossa cidade. Se observarmos como eles eram antigamente, com certeza vamos encontrar, não só fotos, mas relatos de antigos moradores que vão nos dizer que ambos os rios, além de serem utilizados para o abastecimento humano e na dessedentação animal, também eram usados para o lazer nos finais de semana pela outrora população tobiense.
Eu, ainda garoto nos anos 80, quando meus pais migraram para esta terra, alcancei a piscosidade dos dois rios. Lembro-me que nos finais de semana ia junto com meu pai pescar com anzol, tanto no rio Real, como na barragem do rio Jabeberi que pertencia ao Sr. Braz Melo. Quantas espécies de peixes pegávamos, como Traíras, Jundiás, Piaus, Corrós, piabas e até mesmo cágados d’agua e mussuns quando apareciam...
Acompanhei inúmeras vezes as cheias desses dois rios que ficavam repletos de peixes quando das suas enchentes. Lembro-me que quando estavam cheios, ao invés de levar a vara e o anzol para os rios, levávamos um “Gereré” ou uma rede pequena para pegarmos as piabas que ficavam pulando nas margens e voltávamos com os baldes cheios de peixe. Quem não se lembra de quando o rio Real ficava cheio perto da ponte da Lagoa Redonda e que os moleques iam para lá ou para ver a beleza das enchentes colocando barcos de papel para nadar nas suas correntezas ou então p/ mergulhar da ponte rio abaixo como faziam alguns mais corajosos? Que tempos bons aqueles que não voltam mais...
Hoje, fico pensando porque as pessoas, e sobretudo, os jovens não vão mais procurar estes rios para tomar um banho ou simplesmente para pescar. O que fizemos com nossos rios? Se olharmos em volta deles vamos observar o que está acontecendo. Há alguns anos, a prefeitura municipal fez um levantamento geoambiental de nossa cidade, muito fajuto por sinal, e contratou uma empresa de Brasília para fazer um diagnóstico ambiental do nosso município, e esta empresa conseguiu tirar fotografias aéreas do sítio urbano. Ao observar cuidadosamente essa fotografia, que está disponível nesse artigo e em outros sites, pude observar que existe um “verde” ao redor de nossa cidade. Este “verde” não é o verde das nossas matas – até porque essas foram dilapidadas no inicio da ocupação, por volta do século XVII para dar lugar a pastagens p/ criação de gado – nem tampouco, são áreas de hortaliças como acontecem em outras cidades.
O que seria então esse “verde” ao redor de nossa cidade e tão presente na foto? Comecei a questionar os alunos em sala de aula, e eles próprios, puderam ver, não só através da fotografia, mais num trabalho in loco , que aquele “verde” refletido com a luz do Sol, nada mais era do que a destinação de nossos esgotos. Isso mesmo, caro leitor, aquilo que estava e que ainda está ao redor de nossa cidade era fezes, cocô, merda ou bosta como preferem alguns ou “coliformes fecais”- para usar um termo científico - que diariamente são lançados nos nosso rios in natura sem um mínimo de tratamento possível. Pobres rios Real e Jabeberi...
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Rio Real sob a ponte que faz a divisa de SE/BA |
Após a análise desse trabalho, me veio á mente uma teoria: Se estamos cercados por dois rios, além das lagoas e tanques que banham nossa cidade, e estes estão totalmente poluídos de esgotos (diga-se “coliformes fecais”), estamos morando numa verdadeira “Ilha Fecal”. Porque numa ilha? A definição diz que: “toda ilha é uma porção de terra cercada por água por todos os lados”...e porque fecal? Porque estamos cercados de esgoto ou de merda mesmo! Se você, caro leitor, discorda de mim, dê uma olhada apuradamente na fotografia aérea de nossa cidade ou então venha passar um final de semana aqui, sobretudo nos meses de verão, quando o Sol é mais escaldante e as nossas lagoas e rios ficam com uma coloração “verde”, eu aguarantio.
Ontem, dia 20/08/2010, o IBGE divulgou na imprensa nacional que mais de 90% dos municípios brasileiros jogam seus esgotos in natura nos nossos rios sem tratamento adequado deles e que mais de 50% desses municípios não têm nem sequer rede geral de esgoto instalada. Acho que conseguir mais um argumento para minha teoria. Será que ainda poderemos dizer aquele ditado: “Sou pobre, mas sou limpinho”? Olha que eu nem falei sobre a situação do nosso lixo.. Melhor deixar para um outro artigo né? Como já dizia o cantor Cazuza:"Brasil mostra a tua cara..” Eu digo"Tobias ver se dar p/ limpar o rosto!"
Artigo postado por Uilson Pereira da Silva – Educador ambiental e professor de Geografia da cidade de T. Barreto





Parabéns Uilson pela excelente postagem e pelo conhecimento e ação em defesa ao meio ambiente!
Realmente admiro sua luta e preocupação por nosso municipio
Tomara que nossos politicos leiam esta denuncia, lavem a cara e façam alguma coisa
Abraços
Parabéns!!Muito Boa a iniciativa da MOVAM.